UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO (M. BARROS)

AS COISAS QUE NAO EXISTEM SAO MAIS BONITAS

(FELISDÔNIO)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Um pouco da história das bonecas

Esse trecho foi retirado do livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés. Ela é analista junguiana, portanto, em meio á historia das bonecas há uma análise da função delas na vida da mulher.



As bonecas são uns dos tesouros simbólicos da natureza instintiva. (...)

Durante séculos, os seres humanos tiveram a sensação de que das bonecas emanava algo de sagrado e maná – um pressentimento irresistível e impressionante que influencia as pessoas, fazendo com que mudem espiritualmente. (...) Acredita-se que as bonecas sejam impregnadas de vida por quem as criou. Elas são usadas em ritos, rituais, vodus, feitiços de amor e de maldade. Elas são empregadas como símbolo de autoridade e talismãs para lembrar à pessoa de sua própria força.

Os museus do mundo inteiro transbordam de ídolos e imagens feitas de barro, madeira e metais. As imagens dos períodos paleolítico e neolítico são bonecas. As galerias de arte estão repletas de bonecas. Na arte moderna, as múmias envoltas em gazes, em tamanho natural, de Segal, são bonecas. Bonecas típicas de cada etnia abarrotam as lojas de souvenirs nas estações ferroviárias e nos postos de abastecimento das principais rodovias interestaduais. Entre os reis, as bonecas costumam ser dadas desde o passado remoto como sinais de simpatia. Nas igrejas rústicas pelo mundo inteiro há bonecas-santas. As bonecas-santas não so são limpas com regularidade e vestidas com roupas feitas à mão, mas também são “levadas a passear” para que possam observar as condições dos campos e das pessoas e, portanto, interceder nos céus em defesa dos seres humanos.

A boneca representa os homunculi simbólicos, a pequena vida. É o símbolo do numinoso e está sufocado nos seres humanos. Ela é um fac-símile pequeno e luminoso do Self original. Superficialmente, trata-se apenas de uma boneca. Por outro lado, existe nela um pequeno fragmento da alma que possui todo o conhecimento do Self maior da alma. Na boneca está a voz, em miniatura,da velha La Que Sabe, Aquela Que Sabe.

A boneca está relacionada aos símbolos do duende, do elfo, da fada e dos anões. Nos contos de fadas, elas representam uma profunda pulsação de sabedoria dentro da cultura da psique. São eles aquelas criaturas que continuam o trabalho interior e prudente, que são incansáveis. Eles estão trabalhando mesmo quando nós adormecemos, e especialmente quando estamos dormindo, mesmo quando não temos plena consciência do papel que estamos desempenhando.

Dessa foram, a boneca representa o espírito interior das mulheres: a voz da razão, do conhecimento e da conscientização íntima. A boneca assemelha-se aos passarinhos dos contos de fadas que vem sussurrar no ouvido da heroína. Ele é quem revela o inimigo oculto e a atitude a tomar diante da situação. Essa é a sabedoria do homunculus, o pequeno ser interior. Ele é a ajuda que nem sempre está visível, mas que está sempre disponível.

Não há benção maior que uma mãe possa dar à filha do que uma confiança na veracidade da sua própria intuição. A intuição é transmitida de pai para filho da forma mais simples. (...) Ela é definida como a fala da verdadeira voz da alma. A intuição prevê a direção mais benéfica a seguir. Ela se auto-preserva, capta os motivos e intenções subjacentes e opta pelo que irá provocar o mínimo de fragmentação na psique.

Nenhum comentário: