
A minha segunda latinha com a boneca e os lápis.
Esse é um espaço para eu colocar minhas bonecas queridas e outras coisinhas que vou inventando para todos os interessados...
AS COISAS QUE NAO EXISTEM SAO MAIS BONITAS
Água é vida. Mas é também transparência, calmaria, fluidez, purificação e, principalmente, transformação. Não dizem que nunca nos banhamos no mesmo rio, por causa do movimento das águas?
Quando a Nathalie me convidou para participar do ensaio, ela me deu duas possibilidades: ar ou água. Sem nem pensar aceitei a água, porque faz parte do meu sobrenome. Fui, num domingo, à casa dela pra fazermos as fotos. Tivemos que mudar de idéia na última hora porque o tempo não colaborou: estava friozinho e não seria fácil entrar na piscina naquele dia. Ela já tinha pensado numa outra possibilidade: a água em seu estado sólido, o gelo. Achei muito interessante e ao mesmo tempo difícil. Como dar a intenção de gelo? Confesso que no início, estava meio envergonhada, como a maioria das fotografadas, segundo a própria fotógrafa, mas depois, em vez de continuar gelada, fui quebrando o gelo e a água foi fluindo.
Mas só fui entender de verdade o que seria aquilo quando vi as fotos prontas. Foi só a partir daí que senti a força da água
Senti meus pensamentos como uma enxurrada e numa epifania a água que há em mim me transformou de alguma maneira. Nunca tinha dado importância a esse nome, aliás, quando criança tinha vergonha dele, pois ele me dava de presente vários apelidos engraçadinhos: cachoeira, aguada, riacho e outros correspondentes. Mas, quando parei pra pensar um pouquinho no que esse nome poderia me trazer de positivo, a enxurrada desceu e me transformei, purificando-me.
Assim como a água, estou sempre em transformação: líquido, gasoso, sólido. Muitas vezes tento ser sólida, mas quando vejo já estou líquida. O estado gasoso descobri só depois do ensaio. É um estado de transcendência psíquica e espiritual. Senti a força que posso ter se desejar. E senti também a transformação dentro de mim depois dessa experiência única: meu rio estava estagnado, não tinha pra onde correr. Hoje, sinto suas águas fluírem e me trazerem, a todo instante, a sensação de renovação, libertação e paz.
Esse trecho foi retirado do livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés. Ela é analista junguiana, portanto, em meio á historia das bonecas há uma análise da função delas na vida da mulher.
As bonecas são uns dos tesouros simbólicos da natureza instintiva. (...)
Durante séculos, os seres humanos tiveram a sensação de que das bonecas emanava algo de sagrado e maná – um pressentimento irresistível e impressionante que influencia as pessoas, fazendo com que mudem espiritualmente. (...) Acredita-se que as bonecas sejam impregnadas de vida por quem as criou. Elas são usadas em ritos, rituais, vodus, feitiços de amor e de maldade. Elas são empregadas como símbolo de autoridade e talismãs para lembrar à pessoa de sua própria força.
Os museus do mundo inteiro transbordam de ídolos e imagens feitas de barro, madeira e metais. As imagens dos períodos paleolítico e neolítico são bonecas. As galerias de arte estão repletas de bonecas. Na arte moderna, as múmias envoltas em gazes, em tamanho natural, de Segal, são bonecas. Bonecas típicas de cada etnia abarrotam as lojas de souvenirs nas estações ferroviárias e nos postos de abastecimento das principais rodovias interestaduais. Entre os reis, as bonecas costumam ser dadas desde o passado remoto como sinais de simpatia. Nas igrejas rústicas pelo mundo inteiro há bonecas-santas. As bonecas-santas não so são limpas com regularidade e vestidas com roupas feitas à mão, mas também são “levadas a passear” para que possam observar as condições dos campos e das pessoas e, portanto, interceder nos céus em defesa dos seres humanos.
A boneca representa os homunculi simbólicos, a pequena vida. É o símbolo do numinoso e está sufocado nos seres humanos. Ela é um fac-símile pequeno e luminoso do Self original. Superficialmente, trata-se apenas de uma boneca. Por outro lado, existe nela um pequeno fragmento da alma que possui todo o conhecimento do Self maior da alma. Na boneca está a voz, em miniatura,da velha
A boneca está relacionada aos símbolos do duende, do elfo, da fada e dos anões. Nos contos de fadas, elas representam uma profunda pulsação de sabedoria dentro da cultura da psique. São eles aquelas criaturas que continuam o trabalho interior e prudente, que são incansáveis. Eles estão trabalhando mesmo quando nós adormecemos, e especialmente quando estamos dormindo, mesmo quando não temos plena consciência do papel que estamos desempenhando.
Dessa foram, a boneca representa o espírito interior das mulheres: a voz da razão, do conhecimento e da conscientização íntima. A boneca assemelha-se aos passarinhos dos contos de fadas que vem sussurrar no ouvido da heroína. Ele é quem revela o inimigo oculto e a atitude a tomar diante da situação. Essa é a sabedoria do homunculus, o pequeno ser interior. Ele é a ajuda que nem sempre está visível, mas que está sempre disponível.
Não há benção maior que uma mãe possa dar à filha do que uma confiança na veracidade da sua própria intuição. A intuição é transmitida de pai para filho da forma mais simples. (...) Ela é definida como a fala da verdadeira voz da alma. A intuição prevê a direção mais benéfica a seguir. Ela se auto-preserva, capta os motivos e intenções subjacentes e opta pelo que irá provocar o mínimo de fragmentação na psique.